night poem

Não tens nada a temer
é apenas o vento
a virar para leste, é apenas
o trovão teu pai
a chuva tua mãe

Neste país de água
com o relento da lua parda como um cogumelo,
com cepos submersos e grandes pássaros
a flutuar, onde o musgo cresce
por todos os lados das árvores
e a tua sombra não é a tua sombra
mas o teu reflexo.

Os teus pais de verdade desaparecem
mal desce o pano sobre a tua porta.
Nós somos os outros,
aqueles que emergem do fundo do lago
ficamos à beira da tua cama em silêncio
com as nossas cabeças feitas de escuridão.
Viemos para te embrulhar
num novelo de lã vermelha
feito com vergastadas e lágrimas longínquas.

Tu embalas nos braços da chuva
a arca gélida do teu sono,
enquanto nós esperamos, a tua noite
pai e mãe
com as nossas mãos frias e a lanterna apagada,
sabendo que somos apenas
sombras vacilantes projectadas
por uma vela, daqui a vinte anos
ainda ouvirás neste eco.~

Margaret Atwood

+ poemas está neste site http://um-buraco-na-sombra.netsigma.pt/

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